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Fantasmas existem

20 de Maio de 2021

Meus fantasmas não empurram copos e nem aparecem de relance no espelho com o cabelo na cara. Mas, eles são, sim, invisíveis (quando querem).

Meus fantasmas são as frases que ouvi. Ou as frases que acho que ouvi. Ou ainda as que não ouvi, aquelas que me con-ta-ram (com separação silábica, afinal, fofoca boa é fofoca pausada). E tem também as frases que inferi, posto que é nas entrelinhas (e não no porão) que mora o fantasma.

Walter Langley, Memories, 1906.

Meus fantasmas não têm vocação homicida. Mas, eles me tiram sono.

Meus fantasmas são as frases que eu disse. E também as que não disse. E tem até as que eu disse... nos meus simulacros, quando ensaiava a posteriori o que eu queria (e devia?) ter dito - olha aí um adendo fantasmagórico.

Meus fantasmas nunca estão no presente. Eles são ponteiros que endereçam as mais variadas interpretações (negativas) do passado e as mais especulativas projeções (pessimistas) do futuro.

Meus fantasmas são meus. Alguns até tiveram uma ajudinha, colabs com outros artistas, mas todos, definitivamente, têm a minha assinatura.

Meus fantasmas não me assustam, mas eles me incomodam. E também me deprimem. Por quê?

Henry Fuseli, The nightmare, 1781.

Porque falam o que não deveriam sobre assuntos que não conhecem. Ou que não entendem. Além de gritar enquanto tento trabalhar.

E o que me resta fazer? Chamar os Ghost Busters?

Vai ver... A solução é perceber que eles são como a raiz quadrada de números negativos, até existem mas não são reais, rs. Nenhum fantasma sobrevive ao aqui e agora.

 

Fun fact: algumas pessoas de carne osso, veja só, são quaaaaase fantasmas. Só não são meus. Esses aí são filhos de um outro abençoado com uma abençoada.

 

P.S. 1: A vida seria mais fácil se eu aceitasse que não sou eu que escrevo os textos, eles simplesmente aparecem para mim. A propósito, um fenômeno análogo aos meus fantasmas. Diferente deles, os textos são uma agradável aparição. E que dura pouco. Além de chatos, meus fantasmas deviam contribuir com o IPTU.

P.S. 2: Aquela musiquinha dos Caçadores de Fantasmas é tão boa e tão nostálgica que dá, no mínimo, uma aliviada em qualquer amolação. Os anos 80 tem uma magia. É tão forte que sinto saudade de uma época que eu não vivi.