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Resoluções da nova década?

11 de Janeiro de 2021

No final de Dezembro passado, estive pensando quais seriam as minhas metas para a década que se inicia em 2021. Arquitetei um sofisticado plano com desenhos de 3, 5, 7, 10 e 15 metas para os próximos 1, 3, 5, 7 e 10 anos, respectivamente.

Aliás, eu me empolguei. Decidi que um exercício apenas sobre o futuro seria pouco. O simbolismo do fim da década de 2011 a 2020 exigia um processo de reflexão. Decidi incluir também o passado: 3, 5, 7, 10 e 15 pontos de destaque (positivos e negativos) sobre os últimos 1, 3, 5, 7 e 10 anos, respectivamente. Esse respectivamente é muito irritante. Eu sei.

A simplória virada 2020->2021 rolou e, no dia seguinte, gastei 90 minutos apenas com a avaliação de 2020. Em 4 páginas, descrevi pontos positivos e negativos. Sim, 4 páginas. Para piorar, fui incapaz de sintetizar os mais de 30 pontos em apenas 3. Mesmo ignorando a metodologia definida sistematicamente por mim mesmo, esse processo foi legal.

Domenico Fetti, Thoughtfull Archimedes, 1620. Archimedes Thoughtfull, 1620 - Domenico Fetti

Avance o filme 10 dias... Comecei o dia 11 de Janeiro de 2021 com uma solução. Ao acordar, eu sabia a minha grande meta para esta década.

Antes de te contar, vamos voltar 5 anos no tempo. Lá em meados de 2015, li um texto do grande Paul Graham que me marcou. Em The top of my todo list (Abril, 2012), PG deu um tom de resenha para o seu ensaio; o que parece raro.

Ele citou o livro The Regrets of the Dying, uma obra escrita por uma enfermeira que, durante alguns anos, tratou de pacientes terminais. Na sua rotina, ela percebeu um padrão sobre quais eram os arrepedimentos mais comuns daqueles que sabiam que não passariam da próxima curva da vida.

Como eu ainda não levantei o www.pedrodelfino.com, onde escreverei em inglês, segue a minha traduação livre do Top 5:

No original:

PG percebeu um padrão que me passou batido: pelo menos 4 de 5 desses arrependimentos são erros de omissão, isto é, ato ou efeito de deixar de fazer. O que ele não disse foi o que mais doeu.

Baldwin, Buttons at the elevator, 2019.

No meu caso, o último é o que mais me embrulha o estômago. Consigo me ver colocando esse último como o meu grande arrependimento; caso eu me tornasse um paciente terminal.

Aliás, isso me faz lembrar com remorso da década passada. Nos anos de 2011 a 2020 eu vivi parte da minha adolescência e o início da minha vida adulta. Em diversos momentos, eu claramente poderia ter escolhido ser mais feliz do que eu era.

Não fui estruturalmente infeliz. Pelo contrário. Eu fui estruturalmente feliz. Entretanto, por algum motivo, eu não me deixava ser mais feliz do que eu era. E isso poderia ter sido feito. Eu tinha diversos motivos para isso.

Não devo ser o único. Por sinal, a caricatura pejorativa de adolescentes (ou aborrecentes) parece remeter, pelo menos parcialmente, a esse fenômeno.

Por que eu fazia isso? Por que eu escolhia ser menos feliz do que eu podia?

Talvez, porque eu acreditava que escolher ser mais feliz me deixaria mais acomodado. Não sei. Se for, que bobeira - para não dizer algo mais grave.

Vai ver, na próxima década, eu descubro. Por enquanto, para esta década, a supreendente clarividência sintética matinal do dia 11 de Janeiro de 2021 cravou a resolução que:

Na década de 20 do século XXI (2021-2030), eu vou me deixar ser mais feliz.


Jean-François Millet, The Angelus, 1857. The Angelus por Jean-François Millet, 1857–59.

P.S.: A palavra gratidão é uma espécie de sujeito oculto presente em boa parte do texto. Eu sei. Algo em mim impediu que ela fosse usada. E essa é uma palavra linda. Talvez, esse bloqueio rolou porque uma galera mala conseguiu desgastá-la. Também fizeram isso com resiliência. Tomara que essa destruição de belas palavras à La redê saucial tenha acabado na década passada.